A pandemia de covid-19 foi um marco na história recente da humanidade, trazendo desafios e reflexões profundas sobre nosso modo de vida, conexões sociais e a forma como lidamos com crises. No livro Futuro Ancestral, Ailton Krenak questiona a ideia de que o sofrimento ensina algo e nos convida a repensar nossa relação com o aprendizado e com a realidade virtual que tomou conta de nossas interações durante esse período.
A Pandemia Como Devastação, Não Como Mestre
Em um trecho impactante do livro, Krenak responde a uma pergunta sobre o que a covid-19 nos ensinou, e sua resposta é direta: “A pandemia não vem para ensinar nada, mas para devastar as nossas vidas”. Essa visão desafia uma narrativa comum de que as crises sempre trazem aprendizado. Para o autor, se o sofrimento realmente ensinasse algo, povos que enfrentaram tragédias históricas, como a escravidão, estariam sendo recompensados no século XXI. No entanto, a realidade mostra que essas comunidades continuam lutando contra desigualdades e injustiças.
Essa reflexão nos leva a pensar sobre como romantizamos o sofrimento, acreditando que ele nos torna mais fortes ou mais sábios. Krenak nos alerta para o perigo dessa mentalidade, que pode nos levar a aceitar injustiças e dores como parte natural da evolução humana, em vez de combatê-las.
O Perigo da Virtualização das Relações
Outro ponto levantado por Krenak é a intensificação da nossa “acomodação psicológica” no ambiente virtual. Durante a pandemia, grande parte das nossas interações se deu por meio de telas, e o autor chama atenção para o risco dessa experiência ser confundida com relações humanas reais. Ele alerta que entre a nossa ação no ambiente digital e seu resultado, pode haver uma “brecha de não entendimento e até mesmo confusão”.
Com a digitalização acelerada, muitas pessoas passaram a enxergar o mundo através das redes sociais, onde interações são filtradas por algoritmos e reações instantâneas nem sempre refletem empatia ou compreensão. O que Krenak sugere é um retorno à presença real, ao contato humano e à troca genuína que vai além das telas.
Lições Para o Presente e o Futuro
Diante dessas reflexões, como podemos aplicar essas ideias no nosso dia a dia?
- Reavaliar a ideia de que o sofrimento é um mestre – Podemos buscar crescimento e aprendizado sem precisar passar por traumas e dores profundas. A empatia e o conhecimento compartilhado podem ser caminhos mais saudáveis para a evolução pessoal e coletiva.
- Reconectar-se com o mundo real – A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas não deve substituir a presença e a vivência no mundo físico. O contato com a natureza, as conversas cara a cara e as experiências fora das telas são essenciais para o bem-estar.
- Criar narrativas mais humanas e justas – Em vez de romantizar a resiliência, podemos trabalhar para construir sociedades mais justas, onde o sofrimento não seja um pré-requisito para o crescimento.
As palavras de Ailton Krenak em Futuro Ancestral nos convidam a repensar crenças arraigadas sobre aprendizado, sofrimento e a forma como nos relacionamos com o mundo digital
A pandemia foi, de fato, devastadora, e não precisamos transformá-la em um mito de superação para seguir em frente. O verdadeiro desafio é aprender a construir um futuro onde possamos crescer sem precisar sofrer, e onde a tecnologia seja um meio de conexão genuína, e não de alienação.
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